domingo, 7 de junho de 2009

A origem da Língua Portuguesa


Estudar a língua portuguesa e o seu processo histórico é fundamental para a compreensão de sua formação. Sendo assim, estudar o português arcaico é refletir sobre as diferenças entre o passado e o presente, estabelecendo as relações lingüísticas mais justapostas, e não verdades pretendidas sobre esse tempo recuado da língua portuguesa.

A partir dessa aproximação, podemos reunir e interpretar o conhecimento tradicional e recente sobre vários aspectos relativos do português no seu primeiro período documentado, tendo como fundamento as questões gerais relativas à documentação remanescente do período arcaico e às fontes bibliográficas para o seu estudo respectivo à fonética, fonologia, morfossintaxe, sintaxe e léxico do português arcaico.

Em meados dos anos oitenta do século XX, houve um retorno ao interesse pelos estudos histórico-diacrônicos, tanto pela via da Sociolingüística laboviana, com a sua teoria da variação e mudança, como pela via do gerativismo diacrônico, que passou a se interessar pela mudança das línguas, como argumento para a construção de uma “teoria da gramática”, mais recentemente, pela via do funcionalismo, sobretudo no que se refere aos estudos de gramaticalização.

Com esse retorno, novos pesquisadores começaram a se dedicar ao passado da língua portuguesa, tanto no Brasil, como em Portugal, também lusitanistas estrangeiros. Assim sendo, pesquisas novas e renovadas, em termos teórico-metodológicos, sobre o período arcaico do português foram se desenvolvendo, não só no Brasil como em Portugal e em outros lugares, em geral em forma de teses e dissertações, em geral inéditas, além de artigos e comunicações em periódicos e congressos da especialidade. Também, com o Retorno à Filologia (Castro 1995), novas edições de textos medievais ou do período arcaico vêm sendo publicadas e outras re-editadas. E, para a análise lingüística do passado, a base fundamental empírica são os documentos do passado essenciais, em edições confiáveis para estudos lingüísticos, já que, quase sempre, é impossível trabalhar sobre os manuscritos originais.


Pesquisadores, nessa última década, têm desvendado sobre o primeiro período em que a língua portuguesa aparece escrita e que pode se situar dos inícios do século XIII e prolonga-se pelo século XVI, sendo uma data significativa para o início do período moderno, que é o início da gramatização da língua portuguesa.


É importante ressaltar que a formação da língua portuguesa está envolvida de elementos que foram cruciais para esse processo, tais como os fatores políticos, econômicos e religiosos. O português arcaico, dessa forma, foi uma etapa de consolidação da formação da língua que temos nos tempos atuais. E não tem como falar do português arcaico sem falar de outras variações lingüísticas, como o latim vulgar, por exemplo, que como qualquer outra língua, é a expressão da cultura histórica de um povo cuja influência e dominação predominou.


Dentro deste contexto histórico, está a romanização da Península Ibérica, no século III a. C., difundindo então o uso do latim, de certo modo através de uma política de imposição. Com a invasão dos bárbaros germanos, no século V, à Península, a unidade política do império romano foi dissolvida e consequentemente, a dialetação do latim vulgar. Já no século VIII, os árabes também invadiram a Península e portando uma cultura superior, impuseram sua língua oficial, embora os peninsulares continuassem a falar o romance, que é o latim vulgar já modificado. Surgem então os dialetos moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim. Com a expulsão definitiva dos árabes por Fernando de Aragão e Isabel de Castela, no século XV, ficaram os resquícios de sua influência no léxico português, caracterizados pelo prefixo AL (álgebra, alface, álcool, etc.).


Após a expulsão dos mouros do território peninsular, um novo reino foi fundado, o reino de Portugal. Nessa região falava-se o dialeto galeziano, ou galego-português, expressão lingüística comum à Galiza e Portugal. Todavia, Portugal foi se distanciando politicamente de Galiza através de seus domínios e diferenciações lingüísticas, e essa evolução continuou até formar a língua portuguesa que conhecemos hoje. Esse período de transição, conhecido como galego-português, é o período do português arcaico que iremos estudar, que compreende entre o século XII até o século XVI. Foi uma língua falada durante a idade média, variação do romance, que é uma variante do latim.


Em 1290, o Rei Dom Dinis (ou Denis) criava a primeira universidade portuguesa em Lisboa (o Estudo Geral) e decretou que o português, que então era chamado "linguagem" fosse usado em vez do latim em contexto administrativo. Em 1296, o português foi adoptado pela Chancelaria Real. A partir deste momento o português passou a ser usado não só na poesia, mas também na redação das leis e nos notários. Até 1350, a língua galego-portuguesa permaneceu apenas como língua nativa da Galiza e Portugal; mas em meados do século XIV, o português tornou-se uma língua elaborada, dotada de uma tradição literária riquíssima, e também foi adotado por muitos poetas Leoneses, Castelhanos, Aragoneses e Catalães. Durante essa época, a língua na Galiza começou a ser influenciada pelo castelhano (basicamente o espanhol moderno), tendo-se também iniciado a introdução do espanhol como única forma de língua culta. Em Portugal, a fixação da corte em Lisboa, o surgimento da imprensa e a profunda textualização das classes dominantes (aristocracia, clero e burguesia) levaram ao desenvolvimento e elaboração de uma língua padrão a partir dos séculos XV-XVI de características centro-meridionais e à “exportação” de variedades linguísticas despojadas de marcas setentrionais para os novos territórios descobertos e colonizados pelos portugueses.


Com os decobrimentos portugueses, entre os séculos XIV e XVI, a língua portuguesa espalhou-se por muitas regiões da Ásia, África e América, e tornou-se uma “Língua Franca”, utilizadas não só pela administração colonial, mas também para a comunicação entre os oficiais locais e europeus de todas as nacionalidades. A propagação da língua portuguesa foi favorecida por mesclagens entre portugueses e gentes locais e também por missionários católicos, tornando-se então uma língua bastante popular.


Com a Renascença, aumenta o número de palavras eruditas com origem no latim clássico e no grego arcaico, o que aumenta a complexidade do português. O fim do "português arcaico" é marcado com a publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516. Mas formas similares ao português arcaico são ainda faladas por muitas populações em São Tomé e Príncipe, no Brasil e Portugal rural.


O primeiro texto inteiramente redigido em português, segundo Dolores Garcia e Manoel Nascimento, é a Cantiga da Ribeirinha, de Paio Saio de Taveirós, em 1189. Considera-se, portanto, como documento oficial da língua portuguesa, um documento oriundo do português arcaico, período que iremos estudar. Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português, a língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América, sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.


Segundo outros estudiosos, o Pacto de Gomes e Ramiro Pais deve ser considerado o texto mais antigo escrito em português; no entanto, é apenas datável por conjectura (provavelmente anterior a 1173) e contém muitas formas gráficas latinas.


Outro importante documento, a Notícia de Torto, não datado, terá sido escrito entre 1211 e 1216: é uma longa narrativa dos agravos que o nobre Lourenço Fernandes da Cunha sofreu às mãos de outros senhores. Permanece o mais antigo documento particular datável conhecido escrito em português.


O Testamento de Dom Afonso II, datado de 1214, é o texto em escrita portuguesa mais antigo que se conhece (e é consensualmente aceite como tal pela comunidade científica): conservam-se dois testemunhos do documento, um em Lisboa, outro em Toledo. Foi o primeiro de três testamentos que o monarca lavrou, mas apenas este foi redigido na “scripta” portuguesa que na época se estava a desenvolver na corte.


Estes e outros documentos, inclusive aqueles literários, são usados como fontes para o estudo do português arcaico. Com este trabalho, pretende-se investigar os fenômenos linguísticos presentes no português arcaico, face às possibilidades do estudo da fonologia, morfologia e sintaxe que compreende o português arcaico. Todavia, a complexidade desse estudo linguística é um fato, tendo em vista que encontramos algumas dificuldades referenciais e norteadores, que é mais disponível para a morfologia e escassa para a sintaxe. Mas, a compreensão foi significativa e gratificante, pois a partir dessas investigações criamos um novo olhar sobre a língua portuguesa que falamos hoje, fruto da ambição humana e de suas potencialidades.


Justifica-se assim este trabalho, onde o estudo contextualizado do português arcaico, da língua oral e escrita, permite a compreensão das variações do latim romano e outras influências até chegar no português moderno, período que se sucedeu após o fim do português arcaico. Iremos estudar os sintágmas nominais e verbais, a construção de frases e orações, bem como toda a sua estrutura linguística que compreende a língua portuguesa entre o século XII e o século XVI.


Esta observação e reflexão do português arcaico é muito significativa para uma melhor compreensão do percurso histórico da língua portuguesa, daí a importância dos documentos escritos para essas investigações.


Referências bibliográficas:
Gramática Histórica, Dolores Garcia Carvalho e Manoel Nascimento, Ed. Ática, São Paulo- SP.
O Português arcaico: morfologia e sintaxe / Rosa Virgínia Mattos e Silva. 2. Ed. – São Paulo: Contexto, 2001.
http://www.inventario.ufba.br/03/d03/03psouza.htm
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/p00001.htm
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno10-03.html
http://www.wikipedia.com/
http://cvc.instituto-camoes.pt/tempolingua/07.html