terça-feira, 27 de outubro de 2009

Para que serve o léxico / Dissecando a palavra: resumo


INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda nos textos Para que serve o léxico e Dissecando a palavra, de Margarida Basílio, a questão do conceito de palavra e sua identificação na estrutura da Língua Portuguesa, considerando a constituição do léxico na formação das palavras e construção da língua.


LÉXICO E LÍNGUA

Segundo Basílio, o papel do léxico está diretamente ligado à língua. Então, podemos afirmar que o léxico está em constante expansão na medida em que nossas necessidades de representação conceitual e de construção dos enunciados estão em mudança.

Constituição e expansão do léxico

Basílio afirma que o léxico é um sistema dinâmico, permite a formação de novas unidades por parte dos falantes a partir da (re) produção e (re) conhecimento de novos seres, objetos e relações.

Léxico externo e léxico mental

É léxico externo quando dizemos que o léxico é o conjunto de palavras de uma língua. Já o léxico mental ou interno corresponde não apenas às palavras conhecidas pelo falante, mas também aos padrões gerais de sua estruturação.

Processos de formação de palavras

Nesse processo, a autora diz que não se pode resumir a expansão do léxico ao aumento de número de símbolos que os falantes teriam que decorar, haja vista que tornaria o sistema pouco eficiente e impediria a comunicação automática.

O léxico é “ecologicamente correto”.

Como podemos perceber nesse trecho, a principal do léxico é fornecer ferramentas que atenda a nossa necessidade de comunicação. Ao criar novas expressões, novas derivações, esses fenômenos aproveitam o material previamente já disponibilizado pelo léxico do português. Por isso Basílio afirma: “O léxico é ecologicamente correto: temos um banco de dados em permanente expansão, mas utilizando, sobretudo material já disponível, o que reduz a dependência de memória e garante comunicação automática”

Léxico virtual e léxico real.

Nesse texto, Basílio chama a atenção para o potencial de atuação dos processos de formação de palavras, pois esse processo não é igual a formação concreta de novos itens. A autora faz distinção entre o léxico virtual ou mental (conjunto de padrões que determinam construções lexicais possíveis e sua interpretação) e o léxico real (conjunto de palavras da língua)

DISSECANDO A PALAVRA

Segundo Basílio, há vários ângulos que podem enfocar o conceito de palavra. É nessa perspectiva que ela aponta os elementos a seguir.

A palavra gráfica

Através da frase “João viajou ontem”, a autora define palavra como sequência de caracteres que aparecem entre espaços e/ ou pontuação que corresponde a uma sequência de sons que formam uma palavra na língua.

Palavra e dicionário

Nesse texto, a autora esclarece que, embora as palavras da língua sejam aquelas que aparecem nos dicionários, nem sempre essas palavras serão exatamente aquelas que os falantes irão se apropriar. Algumas que estão nos dicionários podem estar defasadas em relação às palavras da língua e outras recentes só são registradas muito tempo depois que as palavras são empregadas. E isto leva a mais uma pergunta: o que os autores dos dicionários consideram como palavra?

A palavra estrutural

Aqui, a autora define morfologia como a parte da gramática que estuda a forma da palavra, que é uma construção que se estrutura de maneira específica.

A palavra e suas flexões

Uma mesma palavra pode apresentar, por causa de sua flexão, diferentes formas em sua estrutura. Como exemplo, Basílio usa o verbo pegar: pegou – pego – pegariam – pegará. Nesse caso, o verbo é uma palavra ou unidade estrutural que se constitui de diferentes formas da conjugação, ou seja, possui flexões.

Palavra, vocábulo e lexema

Segundo a autora, uma forma de enfocar a questão da variação da palavra é pensar na palavra como unidade lexical e como unidade formal. Então, o verbo pegar seria uma unidade lexical por tratar-se de um lexema; as diferentes formas de pegar seriam vocábulos, ou seja, variações de forma da palavra. Basílio lembra que os vocábulos gramaticais como preposições, conjunções e verbos auxiliares não são considerados como lexema, pois não apresentam significado lexical.

Palavra, homonímia e polissemia

Embora as palavras sejam normalmente definidas como uma unidade de significação, são comuns as palavras que tem mais de um significado. Há casos em que as palavras tem significados relacionados e a esse fenômeno denominamos de polissemia. Quando os significados não são relacionados, ainda que tenha a mesma forma fonológica, ocorre a homonímia. Temos como homonímia o clássico exemplo da palavra manga (fruta ou parte do vestuário) e em polissemia, a autora faz referência à palavra modelo (coisa ou pessoa em cuja reprodução estética o artista trabalha / coisa ou pessoa que serve de imagem, forma ou padrão a ser imitado). A autora ressalta que existe um problema permanente em relação ao conceito de palavra, haja vista a dificuldades de decisões definitivas nessa área.

Palavra fonológica

Aqui, a palavra é entendida como uma unidade fonológica, seja como uma sequência fônica que ocorre entre causas potenciais ou como padrão acentual baseado em tonicidade e duração.

Clíticos

Segundo a autora, os clíticos são elementos que compartilham certas palavras de propriedade independentes, agregando-a fonologicamente, mas sem fazer parte dela do ponto de vista morfológico. São considerados clíticos os artigos, assim como vários pronomes pessoais. Os clíticos, por fazer parte apenas do vocábulo fonológico, dificultam de algum modo a identificação da palavra, tendo em vista que os elementos que forma uma palavra são rigidamente ligados aos outros sem admitir mudança de posição ou interferência de outro elemento. Os clíticos mudam de posição (viu-me / me viu) e até admitem elementos interferentes (Chegou o livro. / Chegou o fantástico livro.).

Locuções

Segundo Basílio, temos um descompasso entre o aspecto morfológico e o aspecto gráfico das locuções prepositivas, pois além de dificultar a identificação da palavra, apresentam unidade de significado e uso e também são morfologicamente unificadas, mesmo sendo consideradas clíticos do ponto de vista fonológico.

A palavra como forma livre mínima

A autora faz referência ao lingüista Bloomfield, que defina a palavra como forma livre mínima. Nesse texto, entende-se forma livre como aquela que constitui por si só um enunciado. Portanto, a palavra é uma forma livre mínima, que não possa ser subdividida em formas livres. Essa afirmação logo é questionada em relação as palavras compostas que, por serem formadas por duas ou mais palavras ou radicais, como sustentar que palavras não podem ser subdividas em formas livres.

Formas dependentes

Basílio afirma que Mattoso Câmara modificou a definição de Bloomfield, acrescentando a noção de forma dependente, que são aquelas formas que dependem da outra para ocorrer, mas não estão concretamente ligadas à forma da qual depende. Artigos, preposições, pronomes clíticos, conjunções, nesse caso, seriam formas dependentes.

Problemas remanescentes

A autora faz uma reflexão sobre os problemas existentes na conceituação da palavra e questiona se o maior problema, de fato, não seja o nosso enfoque do que seria uma palavra. Segundo Basílio, embora o léxico envolva elementos que apresentam diversas facetas, como a fonológica, gráfica, morfológica, sintática, semântica, pragmáticas, essas facetas nem sempre são inteiramente recobertas uma pelas outras. “Mas nós sempre ansiamos por categorias com domínios precisos e não superpostos”, afirma a autora, que fala sobre a importância de conviver com a diversidade e com a complexidade


Bibliografia:

Basílio, Margarida. Formação e classes de palavras no português do Brasil – São Paulo: Contexto, 2004.


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