sábado, 28 de fevereiro de 2009

Quanto vale a audiência?


Uma situação que vem chamando a minha atenção ultimamente é o papel que a comunicação social exerce na televisão local. Somos bombardeados de jornalismo policial que se autodenomina de informação ou prestação de serviço à sociedade quando na verdade não é o que parece.

É lamentável em pleno meio-dia, horário em que a família se reúne, ter como prato do dia na televisão o bombardeio espalhafatoso dos homicídios, assaltos, drogas, violência em geral, enfim, a criminalidade mediada. Pais e filhos, que quase não tem tempo de compartilhar alguns momentos juntos, fazem de uma hora tão sagrada e tradicional, que é a hora do almoço, um verdadeiro espetáculo sangrento, informação gratuita que planta a cultura do medo e da insegurança. E o pior: o que deveria ser combatido, está se tornando um vício.

Prestação de serviço ou concessão à violência? Aproveitar um horário familiar para propagar os feitos criminosos é realmente compromisso com a sociedade? Que filosofia de jornalismo é essa que prega a não-violência enfatizando a prepotência dos bandidos?

É hora de avaliarmos o impacto que essa cultura imposta pela mídia está causando nas famílias, principalmente nas crianças. Não podemos ter a televisão como uma força instigante do medo, da inseguridade social e desumanização do homem. É preciso implantar uma proposta diferente, que permita ao telespectador mudar de canal sem ver crimes e sangue, movido pela curiosidade mórbida da audiência içada por apresentadores publicamente revestidos do poder da comunicação. Por que não usar esse poder para algo mais conveniente? Nossos filhos agradecem.

Enquanto isso, resta-me desligar a TV na hora do almoço. A sociedade precisa almoçar com mais qualidade, cultura e cidadania.
Leonilton Cruz

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Reforma política: Voto Facultativo

O Brasil precisa de uma reforma política. Quem ganha aqui não é quem tem mais competência, é quem tem mais poder e dinheiro. Manter o voto obrigatório não muda isso.

O fortalecimento da democracia política só vai acontecer quando a sociedade se sensibilizar pelo voto consciente, e dados mostram que eleitores conscientes estão mais presentes onde o voto é facultativo.

Voto facultativo não quer dizer que as pessoas vão para a praia ao invés de votar. Isso é simbologia do voto obrigatório. Ainda que o processo de consciência do eleitor seja paulatino, tenho certeza que o resultado será positivo.

Apenas 30 dos 193 países obrigam seus eleitores a votar. Alguns desses países tem sua história política marcada por golpes e autoritarismo, como o Brasil. Ter o direito de votar é o resgate do exercício sociopolítico, mas ser obrigado a votar dá uma falsa impressão de democracia num país onde política se confunde com políticalha.

Leonilton Cruz

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Índios da etnia Yekuana lançam livro "Tanöökö".

“Tanöökö: Festa dos caçadores yekuana” foi lançado no dia 09 de fevereiro, no Auditório Alexandre Borges, na Universidade Federal de Roraima. O livro é composto por narrativas de anciãos e histórias escritas por alunos do curso de Licenciatura Intercultural.

A etnia Yekuana vive em três comunidades localizadas às marges dos rios Uraricoera e Auaris e tem uma população estimada em 470 pessoas no estado de Roraima. Na Venezuela esse número fica próximo dos 5 mil.

O lançamento é um marco inédito para os yekuana, que pela primeira vez têm registrada sua história em livro. Os capítulos estão todos relacionados à festa conhecida por Tanöökö, que envolve contato entre comunidades, caçadas, festas e cantos .

O trabalho foi realizado com apoio do Banco Mundial, Instituto de Pesquisas da Amazônia, Núcleo de Educação Indígena Insikiran, Fundação Nacional do Índio, Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (Ministério do Meio Ambiente) e Núcleo Histórico Socioambiental.

“Henrique Aleuta Gimenes, Raul Luís Yacashi Rocha e Reinaldo Luís Rocha são índios yekuana e participaram da organização e revisão dos textos em língua materna”, explicou a professora do Insikiran, Elaine Moreno.

Fonte: www.ufrr.br

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O que é Anarquismo?

ANARQUISMO - INTRODUÇÃO HISTÓRICA

Há uma grande confusão em torno da palavra anarquismo. Muitas vezes a anarquia é considerada como um equivalente do caos e o anarquista é tido, na melhor das hipóteses, como um niilista, um homem que abandonou todos os princípios e, às vezes, até confundido com um terrorista inconseqüente. Muitos anarquistas foram homens com princípios desenvolvidos; uma restrita minoria realizou atos de violência que, em termos de destruição, nunca chegou a competir com os líderes militares do passado ou com os cientistas nucleares de hoje. Em outras palavras, neste estudo estarão presentes anarquistas como foram e são, e não como aparentam ser nas fantasias de cartunistas, jornalistas e políticos, cuja forma predileta de ofender um oponente é acusá-lo de promover a anarquia.

Estamos interessados em definir um grupo de doutrinas e atitudes cuja característica comum é a crença de que o Estado é nocivo e desnecessário. A origem da palavra anarquismo envolve uma dupla raiz grega: archon, que significa governante, e o prefixo an, que indica sem. Portanto, anarquia significa estar ou viver sem governo. Por conseqüência, anarquismo é a doutrina que prega que o Estado é a fonte da maior parte de nossos problemas sociais, e que existem formas alternativas viáveis de organização voluntária. E, por definição, o anarquista é o indivíduo que se propõe a criar uma sociedade sem Estado.

O conceito de sociedade sem Estado é essencial para a compreensão da atitude anarquista. Rejeitando o Estado, o anarquista autêntico não está rejeitando a idéia da existência da sociedade; ao contrário, sua visão da sociedade como uma entidade viva se intensifica quando ele considera a abolição do Estado. Na sua opinião, a estrutura piramidal imposta pelo Estado, com um poder que vem de cima para baixo, só poderá ser substituída se a sociedade tornar-se uma rede de relações voluntárias. A diferença entre uma sociedade estatal e uma sociedade anárquica é a mesma que existe entre uma estrutura e um organismo: enquanto uma é construída artificialmente, o outro cresce de acordo com leis naturais. Metaforicamente, se pode comparar a pirâmide do Estado com a esfera da sociedade que é mantida por um equilíbrio de forças. Duas formas de equilíbrio têm muita importância na filosofia dos anarquistas. Uma delas é o equilíbrio entre destruição e construção, que domina suas táticas. A outra é o equilíbrio entre liberdade e ordem, que faz parte de sua visão da sociedade ideal. Para o anarquista a ordem não é algo imposto de cima para baixo. É uma ordem natural que se expressa pela autodisciplina e pela cooperação voluntária.

As raízes do pensamento anarquista são antigas. Doutrinas libertárias que sustentavam que, como ser normal, o homem pode viver melhor sem ser governado já existiam entre os filósofos da Grécia e da China Antiga, e entre seitas cristãs heréticas da Idade Média. Filosofias cuidadosamente elaboradas e que eram totalmente anarquistas começaram a aparecer já durante o Renascimento e a Reforma, entre os séculos XV e XVII, e principalmente no século XVIII, à medida que se aproximava a época das revoluções Francesa e Americana, que deram início à Idade Moderna.

Como movimento ativista, buscando mudar a sociedade por métodos coletivos, o anarquismo pertence unicamente aos séculos XIX e XX. Houve épocas em que milhares de operários e camponeses europeus e latino-americanos seguiram as bandeiras negras ou rubro-negras dos anarquistas, revoltando- se sob a sua liderança e estabelecendo modelos transitórios de um mundo livre, como na Espanha e na Ucrânia durante períodos da revolução. Houve também grandes escritores, como Shelley e Tolstoi, que expressaram idéias essenciais do anarquismo em seus poemas, novelas e artigos. O sucesso do anarquismo, porém, variou muito porque ele é um movimento e não um partido. É um movimento que tem mostrado grande poder de renovação. No início da década de 60, parecia estar esquecido, mas hoje parece ser outra vez, como em 1870, 1890 e 1930, um fenômeno relevante.

George Woodcoch, Os grandes escritos anarquistas, Porto Alegre, L&PM, 1981, p. 13-14.