quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os erros nossos de cada dia


Diz um ditado que errar é humano. Uma propaganda do Conselho Nacional de Justiça diz que ajudar quem erra é mais humano ainda. Frases feitas, de efeito, são muito usadas no dia a dia. Com elas resumimos o que pensamos, torna-se mais prático usá-las e não há quem não conheça uma variedade de ditados populares.

De tanto assistir à propaganda do CNJ, percebi que ela tem um contexto intrigante, e por tratar-se de um assunto envolvido de preconceitos, faz com que as pessoas repensem a sua resistência contra os erros dos outros, ainda mais daqueles que pagou por eles.

Por que não estender a mão a quem precisa de uma chance? Por que não empregar um ex-detento? Concordo integralmente com a propaganda, afinal, a dívida (o erro) foi paga, o sujeito reintegrou-se à sociedade e tem direito às mesmas oportunidades como qualquer um.

Mas esse não é o contexto intrigante da propaganda. Ela mostra o sujeito que passou a ser livre tem duas escolhas: o trabalho ou a volta ao crime. Duas escolhas totalmente opostas, conflitantes, como se optar por uma delas livrasse a pessoa da outra.

Mais que isso, coloca o fator desemprego como uma causa da criminalidade, como se não ter trabalho fosse pretexto para se tornar um ladrão ou homicida. Pensando assim, parece que, embora com duas escolhas, o homem tem a liberdade cerceada, prisioneiro da dura realidade que aflige milhares de pessoas desempregadas do nosso país.

Nesse aspecto, a liberdade custa caro, porque exige do indivíduo o que nem todos tem: honra e  bom caráter. É por isso que muitos que saem da cadeia voltam a cometer crimes, porque não sabem ser honestos no momento em que mais precisam, lição exemplar que não vem de nenhum parlamentar ou executivo, mas dos moradores de rua, dos catadores de lixo e até de quem vive de esmolas, pois preferem encarar diariamente a vida dura, comer o pão que o diabo amassou – a roubar, a tirar a vida do próximo, por achar-se na liberdade de tomar para si o que o outro conseguiu, às vezes, com muito sacrifício e suor.

Em um mundo onde nem sempre vemos uma mão estendida para quem batalha por acertos, parece ilusão querer que a sociedade ajude quem erra. Enquanto falamos sobre o erro, devemos também nos lembrar daqueles que tiveram os seus sonhos ceifados, os seus direitos de acertar interrompidos por aqueles que, fruto de sua própria ignorância, sequer pensou sobre a conseqüência de seus atos. Quando vejo certas atrocidades como uma recente em que o ex-marido descarregou o revolver na ex-mulher em seu trabalho, na frente de suas clientes, é preciso corrigir o ditado popular, porque em casos como esse, errar é desumano!

Meu objetivo não é criticar a propaganda. Mas quanto àqueles que não resistem a errar, que tenham a maturidade para enfrentar as conseqüências, quando esta lhe faltou em sua plena liberdade de acertar. Somos humanos e qualquer um é sujeito ao erro, aprendemos com eles e até evoluímos. Quem é do bem, aprende a lição e quem é mal, não há ajuda que o conserte. E se é bom alguém nos estender a mão quando erramos, melhor ainda é nunca precisar dela.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Políticos e corrupção: um espelho da nossa sociedade?


Não importa o lugar e o ambiente, pode ser numa roda de amigos em mesa de bar ou numa reunião social, quando o assunto é política não há quem não alfineta político A ou B, sempre há alguém que reclama, critica e até faz uma relação nominal dos políticos “ficha-suja”, descreve com precisão o que cada um fez, o que roubou e ainda explica porque tudo termina em pizza.

Realmente. A televisão, os jornais, a internet, os meios de comunicação estão ao alcance de todos. Só não se informa ou não se instrui politicamente quem não quer. E essa história de falar mal dos políticos é coisa antiga, nos cartoons ou revistas de piadas eles são estereotipados, rotulados, quase nunca são honestos, comprometidos com a ética e a moral.

Essa é a nossa cultura, o senso comum que vê na política brasileira adjetivos que reprovamos e repudiamos como se nós, eleitores, fôssemos de caráter exemplar, isentos de corrupção, jamais conivente com esse tipo de prática, afinal, é assim que tem que (ou deveria) ser.

Todavia, não é o que diz uma pesquisa do Ibope realizado no mês de março de 2009. A pesquisa revela que a maioria dos entrevistados (75%) declarou que faria a mesma coisa se estivesse no poder. Contradição?  Não, meu prezado leitor, é um convite à reflexão sobre os políticos que nos representam no poder e à relação de suas ações com que fazemos enquanto indivíduos na sociedade.

Ora, se alguém comete pequenas ilicitudes no dia a dia, transgride normas sociais, não pensa duas vezes em se dar bem em detrimento do outro, o que faria se fosse um político? Então pergunto: O homem se corrompe pelo poder ou o poder é mero pretexto para justificar a sua corrupção? Quem é essencialmente íntegro, um sujeito de princípios, se corrompe também só porque se tornou um político?

Eu ainda não era eleitor quando conheci um prefeito de uma cidade onde morei. Até hoje, quando ouço falar dele, citam exemplos de sua dignidade e bom caráter. Não comprou terras, não multiplicou o gado, continuou com o mesmo carro velho, o mesmo endereço. Só que nunca mais ganhou uma eleição porque não tinha dinheiro para comprar os votos dos eleitores corruptos, que segundo a pesquisa supracitada, não são poucos. Parafraseando o nosso governador, uma vez ouvi o ex-prefeito dizer que não ganhava mais nem para vereador. Da sua história, fica a certeza que todo bom político tem que ter ao seu lado bons eleitores.

Então, prezado leitor, se reclamar da corrupção no país não é novidade, devemos refletir se não estamos agindo com hipocrisia. Que tipo de eleitor você é: eleitor vítima ou eleitor cúmplice? Só vamos mudar realmente esse cenário quando cada um de nós evoluirmos nossa prática humana com base nas virtudes, e não nos vícios, com vontade de transformar escolhendo o que é certo, e não sendo conivente com o que está errado. Conscientize-se, discuta, reflita e vote!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os desafios da família na educação dos filhos


Nos tempos atuais, é muito comum ouvir comentários e debates sobre a família, sua função social e sua atual conjuntura. Célula fundamental da sociedade e insubstituível, questiona-se sua participação na educação dos filhos e sua formação enquanto ser social.

Que família temos e que família queremos? O que é família? Considerada a mais antiga instituição social, é o fundamento básico e universal da sociedade, pois possibilita um conjunto de regras de acordo com a sua cultura e oferece padrões de conduta que orienta o indivíduo em sua relações sociais. Teoricamente, é isso mesmo. Todavia, ao analisar as mudanças pelas quais a estrutura familiar vem passando, essa concepção tão objetiva caminha para um novo conceito, bem diferente e mais complexo que o papel social que a família exercia na Idade Média e Era Moderna.

Distintamente, nos deparamos com profundas transformações que influenciaram e ainda influenciam a funcionalidade familiar. E aí pergunto: Os pais estão preparados para essas mudanças? Eles estão proporcionando aos filhos, através de regras, valores, orientação – um melhor desenvolvimento para a vida e convívio social? Ou estão deixando essa imprescindível tarefa para outras instituições sociais como as escolas, igrejas, projetos culturais, etc.?

Hoje, vivemos numa sociedade altamente tecnológica e a família repassa à criança aquilo que a sua realidade oferece, socialização que pode ser organizada ou não se desenvolver gerando uma relação conflituosa e, às vezes, decadente. Os desafios com os quais a família de hoje se depara é reflexo dessa dinâmica histórica e social existente.

Não dá mais para educar um filho como fomos educados pelos nossos pais há décadas atrás. Os pais precisam entender que o que para eles se tornou estabelecido, o modo como foram educados no contexto familiar, em grande parte, é objeto de crítica pelos filhos, pois a realidade é outra e as fórmulas do passado são naturalmente incompreendidas, ou seja, a criação tradicional não tem mais o mesmo efeito.

Além do mais, a estrutura familiar está diversa. Famílias com pais separados, o declínio da autoridade marital ou paterna, o aumento das relações sexuais fora do casamento, o baixo capital cultural, a presença da mulher no mercado de trabalho, a acentuação do individualismo e da liberdade da família, o declínio na conduta religiosa no lar, entre outros, são fatores que promovem uma nova (des)organização familiar responsáveis por essas mudanças. As transformações na sociedade contemporânea, a mudança de valores e liberalização de hábitos e costumes estão desencadeando um processo de fragilização dos vínculos familiares, o que torna a relação entre pais e filhos mais vulnerável.

A verdade é que o modelo de família está em crise. Serão os nossos filhos vítimas dessa pluralidade que configura a flexibilidade da estrutura familiar da sociedade pós-moderna? O que estamos ensinando a eles? É possível transmitir valores dentro de uma sociedade que mais exige do que possibilita? Uma certeza tenho: não se deve temer o desafio do presente na educação dos filhos, pois dessa forma, além de promover os pilares constituinte de uma família, teremos no futuro adultos mais conscientes de seu papel na sociedade e de sua contribuição por um mundo melhor.