sábado, 27 de agosto de 2011

O terrorismo na escola e a falácia da gestão democrática

“Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”. - Paulo Freire


Um dia antes da paralisação dos trabalhadores em educação marcada para o dia 25 de agosto, a direção da escola reúne os professores e em poucas palavras afirma: “A paralisação é um direito de vocês, mas quero cientificar que terão o ponto cortado, desconto sobre a GID e poderá implicar sobre a avaliação do estágio probatório”. Palavras secas pairam no ar, um olhar frio em meio a olhares confusos e inseguros toma conta da sala, parecer imperar. “É olho por olho e dente por dente!”, declara uma professora, que resolver quebrar o silêncio. E nutridos pela coletividade, coragem e determinação, depois de certa discussão, a maioria resolve: “vamos paralisar!”.

Parece um relato simples, crônicas do cotidiano escolar, mas não é. O que podemos inserir nesse contexto nos leva a refletir sobre o que vem acontecendo de certo tempo para cá, mediante a proximidade de uma paralisação ou iminência de greve dos trabalhadores em educação. É a política do medo, da intimidação velada, do constrangimento ao profissional, professores, pais e mães que pensam numa educação melhor e repensam todo dia nessa melhoria - sob a mira cruel do gestor que vira coronel.

O discurso coletivo, a gestão compartilhada, a brincadeira de democracia no interior das escolas acabou! Mais uma vez, o elo se perde e a gestão que tanto prega união vira as costas, porque não quer ouvir ou não tem respostas. Rasga-se o Projeto Político Pedagógico, tão encantador pela esperança que promove, defensor da autonomia, da liberdade de agir e inclusive de lutar, caso queria conseguir. Tudo vira hipocrisia, porque nessa hora, a democracia amplamente defendida e contraditoriamente aplicada mais esconde que revela e se presta às mais diversas situações para escamotear, onde, de fato, está o poder e a que interesses serve.

Em nome do poder, não temos mais uma escola feita de gente e sim, de coisa. É a coisificação do professor, do aluno objeto, negociado entre quem manda e quem pode (ou quer) obedecer. Sob a ameaça do ponto cortado, o professor que também é pai e mãe, fica entre a cruz e a espada, porque sabe o que precisa por à mesa e a falta que faz o desconto de seu salário, como se a sua luta fosse apenas por salário. E o professor, muitas vezes calado na sua sala superlotada, sem apoio e recursos, diante do sorriso da criança que lhe pede ajuda e do olhar triste da outra que pede socorro, compreende o quanto é preciso lutar e a sua importância nesse processo, porque ainda que haja momentos em que se sente tratado como coisa, não há lugar melhor do que uma sala de aula para sentir-se humano.