quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Análise didática do filme Uma Professora muito maluquinha

O filme “Uma professora muito maluquinha”, adaptação do livro do mesmo nome, de Ziraldo, mostra a história de uma professora (Paola Oliveira) que, recém-formada, passou a lecionar numa escola primária. Com uma metodologia diferente do tradicional, seu método agrada aos alunos, mas incomoda pais e, principalmente, as professoras tradicionalistas da escola.

A trama acontece no início da década de 40, período da II Guerra Mundial. No Brasil, ocorre o fim da ditadura de Getúlio Vargas. No contexto educacional, a tendência tradicional deixa sua influência sobre a prática docente, mas uma nova tendência passa a ser discutida: a Renovadora não diretiva (Escola nova). Nesta pedagogia, a manifestação das práticas pedagógicas, bem como o papel da escola e a relação professor-aluno se contrapõem a tendência tradicional, onde o professor é autoritário e transmissor do conhecimento e o aluno, um mero receptor.

Embora não faça parte do período em que a história se desenvolve, Ziraldo transporta para o ambiente educacional o modelo construtivista. A professora Catarina é uma mediadora do conhecimento e com suas aulas dinâmicas fazia com que os alunos participassem ativamente do próprio aprendizado mediante a experimentação, pesquisa, desenvolvimento do raciocínio, entre outros. Através dessas ações, os alunos construíam o saber a partir da própria interação com o meio em que vivem, fazendo parte dele, ainda que fosse de maneira contextualizada.

Catarina não fazia uso da rigidez nos procedimentos de ensino, não dava importância a avaliação obrigatória e nem fazia uso de material pedagógico que lhe parecesse improdutivo. Sua preocupação didática estava em despertar o interesse e prender a atenção dos alunos, para que assim pudessem assimilar o conteúdo e adquirir o conhecimento.

Através do seu olhar sensível, consegue superar as dificuldades advindas do meio ao qual a escola está inserida. Por meio do fazer pedagógico, a professora fazia com que os conteúdos estivessem conectados à realidade do aluno, ainda que o assunto fosse História Antiga. Sabia contextualizar com a vida e valorizava as potencialidades de cada um.

Em oposição a essa prática pedagógica estava o ensino tradicional das professoras sérias e carrancudas e da diretora da escola, que seguem regras aprovadas pela Educação. O apego ao tradicionalismo é tão forte que há um desprezo pela maneira de ensinar da professora Catarina. As professoras percebiam as mudanças pelo comportamento e interesse dos alunos, mas a inflexibilidade de suas posturas falava mais alto e se levantaram contra Catarina, exigindo providências sobre o seu “estranho” jeito de ensinar, pois consideravam uma subversão. Mas o compromisso que Catarina tinha com o seu trabalho e seus alunos não deixava tempo para se importam com isso.

A atuação da “professora maluquinha” também sofria interferência do Padre Beto, supervisor da escola, que a repreende por conta da queixa das outras professoras. Todavia, sua superação vai além dos encalços daqueles que se desagradavam, pois mesmo numa época em que a tecnologia não estava presente, ela conseguia aproximar sua prática pedagógica à realidade dos alunos e assim, fugia da acomodação e da postura conservadora tão defendida por suas colegas de trabalho.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Filme O Vingador do Futuro Dublado - Rmvb

Download Baixar Filme O Vingador do Futuro   Dublado

Sinopse: Bem vindos ao Rekall, a companhia que pode transformar seus sonhos em memórias reais. Para um operário chamado Douglas Quaid (Colin Farell), apesar de ter uma bela esposa (Kate Beckinsale) a quem ama, as palavras *viagem mental* soam como férias perfeitas de sua vida frustrante — memórias reais de uma vida como um super espião podem ser exatamente o que ele precisa. Mas quando o procedimento dá errado, Quaid se torna um homem procurado.

Encontrando-se foragido da polícia — controlada pelo chanceler Cohaagen (Bryan Cranston), o líder do mundo livre — Quaid conta com a ajuda de uma lutadora revolucionária (Jessica Biel) para encontrar o chefe da resistência subterrânea (Bill Nighy) e deter Cohaagen. A linha entre fantasia e realidade fica distorcida e o destino de seu mundo fica na balança enquanto Quaid descobre sua verdadeira identidade, seu verdadeiro amor e seu verdadeiro destino.

TRAILER

Dados do Filme:
Tamanho: 398 MB
Formato: 
Rmvb
Idioma: 
 
Português 
Classificação Etária:
14 Anos
Lançamento: 2012
Qualidade Áudio 
10
Qualidade Vídeo  10


Baixe direto através do link:
Netload

Filme Os Mercenários 2 - Dublado Rmvb

Download Baixar Filme Os Mercenários 2   Dublado

Sinopse: Sylvester Stallone lidera o maior e mais famoso grupo de mercenários do cinema! Ao aceitarem uma missão aparentemente simples, o grupo é surpreendido por uma emboscada e Tool (Mickey Rourke) é assassinado. Tudo se complica mais ainda quando a filha de Tool resolve fazer justiça com as próprias mãos e acaba capturada. Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris se unem a este super time ao lado de Jason Statham, Bruce Willis, Jet Li, Dolph Lundgren e Arnold Schwarzenegger nesta missão cheia de ação.

Trailer

Dados do Filme:
Tamanho: 316 MB 
Formato: 
Rmvb
Idioma: 
 
Português 
Classificação Etária:
14 Anos
Lançamento: 2012
Qualidade Áudio 
10
Qualidade Vídeo  10

Baixe direto através do link:
Netload

sábado, 8 de dezembro de 2012

Filme Diário de um Banana - Dias de Cão Dublado - rmvb

\"Download
Sinopse: Greg Heffley (Zachary Gordon), mesmo em férias, consegue aprontar muita confusão com suas ideias mirabolantes. Tudo por que seu pai decidiu que esta é uma boa hora para passar aqueles momentos de pai e filho. Para que nada estrague seus planos, Greg finge que trabalha em um luxuoso clube de campo, mas nem tudo sai como ele imaginou.

Dados do Filme:
Tamanho: 310 MB
Formato:
 Rmvb
Idioma: 
Português
Classificação Etária:
Livre
Lançamento: 2012
Qualidade Audio:
10
Qualidade Video: 10
Servidor: 
NetLoad
TRAILER

Link direto para download:

Filme Marcados Para Morrer Dublado - Avi

DADOS TÉCNICOS
Título Original: End of Watch
Gênero: Policial
Tempo de Duração: 104 Min
Ano de Lançamento: 2012
Qualidade: R5
Formato: AVI
Áudio: Português
Legenda: Português – Baixar
Tamanho: 797 MB
Qualidade de Áudio: 10
Qualidade de Vídeo: 10

Sinopse: No filme Marcados Para Morrer Dublado A trama acompanha Taylor (Gyllenhaal) e Zavala (Pena), dois jovens policiais de Los Angeles que patrulham as áreas mais perigosas da cidade. Ao se depararem com uma terrível descoberta envolvendo o cartel de drogas que comanda a região, colocam suas vidas e de suas famílias em perigo.

Elenco
Jake Gyllenhaal
Michael Pena
Anna Kendrick
Cody Horn
America Ferrera
Frank Grillo
Natalie Martinez.

Link direto para download:
Depositfiles

Filme Prisioneiros do Poder Dublado - Avi


DADOS TÉCNICOS
Título Original: Obitaemyy ostrov
Gênero: Ação | Ficção
Tempo de Duração: 120 Min
Ano de Lançamento: 2012
Qualidade: DVDRip
Formato: AVI
Áudio: Português
Legenda: Indisponível
Tamanho: 960 MB
Qualidade de Áudio: 10
Qualidade de Vídeo: 10

Sinopse: No filme Prisioneiros do Poder No futuro, o mundo mudou muito. O desenvolvimento humano chegou ao ponto das viagens interestelares tornarem-se rotineiras — e a fome, a violência e as guerras são coisa do passado. Mas, em pleno século 22, quando a nave do explorador espacial Maxim cai acidentalmente no desconhecido planeta Saraksh, ele descobre uma sociedade similar à do século 20, imersa em problemas sociais, escravizada por um governo totalitário e mantida refém dos poderosos. Estaria Maxim destinado a tornar-se um herói, lutando contra a opressão em um mundo cinzento e sem esperança?


Elenco
Vasiliy Stepanov … Maksim
Julia Snigir … Rada (as Yuliya Snigir)
Pyotr Fyodorov … Gay
Sergey Garmash … Zef
Yuriy Kutsenko … Vepr (as Gosha Kutsenko)
Aleksey Serebryakov … Strannik
Mikhail Evlanov … Chachu
Andrey Merzlikin … Fank
Anna Mikhalkova … Ordi
Maksim Sukhanov … Papa
Fedor Bondarchuk … Prokuror (as Fyodor Bondarchuk)
Yuriy Tsurilo … General.

Baixe diretamente através dos links abaixo:
Depositfiles

Uploaded

Baixe filmes sem frescura!


É chato pra caramba quando queremos fazer download de um filme e somos barrados por aqueles infernais links protegidos. Todos eles são um meio de programadores ganhar dinheiro às nossas custas, através de cadastros de celular ou programas de download. Enfim, quero que eles se danem!

Sempre baixei filmes sem gastar um centavo. Fiz algumas publicações nesse blog ensinado as pessoas a fazer isso sem fazer cadastro ou coisas do tipo (Clique aqui para ver). Centenas de comentários e elogios! Todavia, eles sempre criam outros meios de barrar essas descobertas, e uma delas foi o link invertido. Descobri o segredo e ensinei os meu leitores novamente!(Clique aqui para ver) Dei outras dicas, que ajudou e muito a baixar filmes de graça e sem frescura.

Sempre que possível estarei dando dica de filmes e como baixá-lo diretamente através do suporte de armazenamento. Simples e prático. Procure no marcador "Filmes" e fique atualizado.Você também pode deixar um comentário abaixo pedindo o filme que postarei assim que encontrar. 

Abraço
WebRep
Classificação geral
Este site não tem classificação
(número de votos insuficientes)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Resumo do livro “Direito Penal do Inimigo”, de Jakobs Gunther

Direito Penal do Inimigo
Por José Salazar, acadêmico em Direito


No primeiro capítulo do livro direito penal do cidadão e do inimigo, de Jakobs Gunther, o autor faz um breve esbouço sobre a pena na qual a caracteriza como coação, uma intimidação de diversas classes mescladas em íntima combinação. Também foram abordados na obra alguns esboços jus filosófico que denominam o direito como o vínculo entre pessoas que são titulares de direitos e deveres.


Vale ressaltar a importante opinião de Callegari e Giacomolli sobre o direito penal no qual afirmam que num estado constitucional de direito, o direito penal deve orientar-se por critérios de proporcionalidades e de imputação, preservando tanto as garantias constitucionais como a essência do ser humano e que independente da gravidade da conduta do agente, que deve ser punido criminalmente como transgressor da norma penal, como pessoa que praticou o crime e não como um inimigo do estado.

O direito penal do inimigo possui duas vertentes criminais: o simbolismo do direito penal é a primeira dela e a segunda é o positivismo expansionista capaz de agregar no mesmo lugar o conservadorismo e o liberalismo penal.

Em contra partida, Rousseau defende que qualquer malfeitor que infringe o direito social deixa de ser membro do estado e passa a ser inimigo, por isso deve morrer mais como inimigo do que como cidadão. Semelhante a essa ideia, Fichte argumentava que quem abandona o contrato de cidadão com o estado perde todos os seus direitos como cidadão e como ser humano e passa a um estado de ausência total de direitos. E afirma ainda que essa falta de personalidade não é uma pena, mas só um instrumento de segurança.

Contrariamente, Hobbes argumenta que o delinquente mantem sua função de cidadão, pois não pode eliminar por si mesmo, seu status. No entanto, tudo muda quando se trata de uma rebelião. Portanto, o direito penal do cidadão mantem a vigência da norma, já o direito penal do inimigo combate perigos.

É importante, dentro do tópico da personalidade real e periculosidade prática, ressaltar que os delitos só acontecem em uma comunidade ordenada, no Estado, do mesmo modo que o negativo só se pode determinar ante a ocultação do positivo ou vice-versa. O delito não aparece como inicio do fim da comunidade ordenada, mas só como infração desta. Por isso, o estado moderno vê no autor de um “delito” não como um criminoso, mas como um cidadão.

O direito penal reconhece dois polos ou tendência em suas regulações: de um lado há um tratamento como cidadão esperando que se exteriorize sua conduta para depois reagir, com o fim de confirmar a estrutura normativa como sociedade; de outro lado está o tratamento como inimigo, que é interceptado no inicio prévio, a quem se combate por sua periculosidade.

No que tange o terrorismo elencados no decorrer do livro, o autor argumenta que, por meio do castigo dos terroristas, pretende-se combater o terrorismo em seu conjunto, ou seja, a pena é um meio para um fim policial, um passo na luta pela segurança. Ressalta ainda que o fim do estado de direito não é a máxima segurança possível para os bens, mas sim a vigência real de um direito que torna possível a liberdade. Especifica também que o direito penal dirigido especificamente contra terrorista tem o comprometimento de garantir a segurança do que de manter a vigência do ordenamento jurídico. Concluindo, o direito penal do cidadão é a garantia da vigência do direito mudam para converte-se em direito penal do inimigo.

Mas surge a pergunta: É legítimo o direito penal do inimigo? A resposta é se está em risco a vida de inocentes civis, o estado tem por obrigação proteger a todos, usando de todos os meios lícitos para esse fim.

No capitulo três do livro, o conceito do direito penal do inimigo supõe um instrumento idôneo para descrever um determinado âmbito, de grande relevância, do atual desenvolvimento do ordenamento jurídico-penal. Entretanto, como direito positivo, o direito penal do inimigo só integra nominalmente o sistema jurídico penal real. Neste sentido, torna-se evidente que a tendência atual do legislador é de reagir com firmeza dentro de uma gama de setores a serem regulados, no marco da luta contra a criminalidade, isto é, com um incremento das penas previstas.

Jakobs caracteriza o direito penal do inimigo por três elementos: em primeiro lugar, constata-se um amplo adiantamento da punibilidade; em segundo, as penas previstas são desproporcionalmente altas; no terceiro, determinadas garantias processuais são revitalizadas ou inclusive suprimidas.

Meliá conclui dizendo que o pior do direito penal do inimigo é a sua incompatibilidade com o princípio do fato. Ele chama a atenção para a incompatibilidade do direito criminal clássico com a tentativa de orientar a responsabilidade com base na "atitude interna do autor". Diz que devemos observar o que está por detrás da teoria do direito penal do inimigo, a qual inicia com ameaça terrorista e depois amplia exageradamente seu alcance, o que nos deve fazer refletir sobre o risco de sermos incluídos, por algum motivo, no rol de inimigos. Mesmo que essa reflexão se dê somente em espírito, será suficiente para rechaçar o denominado direito penal do inimigo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Crítica Social e a Linguagem em Vidas Secas


A CRÍTICA SOCIAL E A LINGUAGEM EM VIDAS SECAS*
*Leonilto Manoel da Cruz, Licenciatura em Letras, UFRR

INTRODUÇÃO

            O presente trabalho vem abordar dois temas bastante presente no romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos: A crítica social e a linguagem. Publicado em 1938, a obra narra a vida de uma família de retirantes, marcada por dificuldades advindas da natureza e da opressão do homem, onde o contexto pode ser relacionado com os dias atuais nas diversas óticas temáticas que compõem o romance, como estes que fazem parte da análise.

            Como crítica social, a análise nos leva a perceber como o autor trabalha as personagens e busca explorar paralelamente, a dimensão individual e social de cada uma, de modo que o resultado acaba por problematizar as questões sociais em um tom crítico e denunciativo. A fome, a falta de moradia, a opressão do patrão e do Governo são elementos que atingem Fabiano e sua família que, desamparados no campo social e discursivo, nos faz entender que o autor contempla, de certo modo, muitos Fabianos existentes no Brasil cheio de contrastes e marcado pela desigualdade social.

            A falta de comunicação entre Fabiano, a mulher e os dois filhos nos revela que secas não são somente a vida das personagens, mas também as palavras. A linguagem, ideologicamente compreendida como instrumento de libertação do homem e essencialmente social, não faz parte do cotidiano retratado em Vidas Secas. A ausência do discurso se reflete nas relações entre as personagens e suas ações, onde a comunicação se situa no mesmo nível dos bichos, num processo de animalização. Na análise, podemos perceber que a linguagem é utilizada como arma de opressão sobre Fabiano e sua família, contribuindo para a condição do ser oprimido e marginalizado.
  
A CRÍTICA SOCIAL EM VIDAS SECAS
            
Publicado na década de 30, o contexto histórico do romance Vidas Secas traz uma ótica pautada no subdesenvolvimento social e econômico brasileiro. A ficção regionalista se aproxima da realidade e dá um tom de visão crítica do ponto de vista social. Através do regionalismo e a seca do nordeste, a realidade socioeconômica e as relações de poder, o romance nos faz perceber que fatores como estes transformam o homem, adequando-o a sua realidade (seca, miséria, exploração).
           
            Para Hirato e Cícero (2009, p5), o Modernismo Brasileiro, por estar vinculado ao desenvolvimento da economia capitalista, teve grande efervescência na década de 20 e 30.

“Este, por sua vez, trouxe consigo um momento  de intenso questionamento sobre a realidade social brasileira, tendo o Movimento Modernista logrado combinar com elementos estéticos (ligados às modificações operadas na linguagem) aos elementos ideológicos (diretamente atada ao pensamento, à visão de mundo)”.

Sob esta ótica, os autores observam que a realidade vivida por Fabiano, sua mulher, seus filhos e a cachorra Baleia, não mostra apenas as dificuldades de uma família diante da seca e a opressão geográfica. Expõe o desamparo social e um Nordeste decadente, as injustiças sofridas pelas camadas menos favorecidas e oprimida pela miséria e o descaso político. Segundo Rosa (2002, apud Victor Coelho, 2008), além do desamparo social (acesso a moradia, saúde, educação, segurança) está o desamparo discursivo (formação de valores e ideais), fato que dificulta o sujeito de posicionar-se e ter voz nas relações de poder e contribui mais ainda para o processo de exclusão social. Para a autora, isto “perpetua e submete os sujeitos ao discurso social dominante, promovendo sua adesão aos fundamentos da organização social que lhes atribui lugares marginais”. Desse modo, Victor Coelho (2008) observa que “a hierarquia social é reforçada pela manutenção da violência simbólica”.

Nesse contexto, a obra de Graciliano Ramos nos permite aproximar da visão política do escritor. Em 1936, foi preso acusado por conta de seu envolvimento político. Entra para o Partido Comunista Brasileiro em 1945 e visita União Soviética e outros países socialista em 1952. Isto explica porque “Vidas Secas” possui uma abordagem marxista em seu contexto político-social. O contato que o autor teve com a filosofia marxista nos faz entender porque o autor expõe sua preocupação com a realidade social no Brasil e se posiciona politicamente na produção literária, exercendo um papel de denúncia e de crítica social, características do Neorrealismo. Nesta época, O Brasil vivia a era Vargas, período de transformações sociais e econômicas.

Segundo Hess et al (2005, p.2),

a região em que a crise da sociedade colonial do início do século XX se delineava com mais propriedade era o Nordeste. As tendências modernizadoras e de transformação do país encontravam nessa região obstáculos mais concretos; ali se frustraram as esperanças de uma renovação democrática, como apontou Carlos Nelson Coutinho: “na medida que aí as contradições eram mais ‘clássicas’ (no sentido de Marx), o Nordeste era a região mais típica do Brasil, a sua crise expressando – em toda sua crueza e evidência – a crise de todo o País


Os anos que se sucederam após a I Guerra Mundial provocou profundas mudanças no cenário político entre os países. Com a crise de 1929 dos Estados Unidos, entraram em decadência as oligarquias cafeeiras, fato que fortaleceu o poder do Estado. As transformações econômicas e sociais foram notáveis na Era Vargas, mas a centralização do poder na região sudeste criou dois contrates: o desenvolvimento industrial e a desigualdade social, como a seca e a miséria. É nesse contexto que Graciliano Ramos, alimentado pelos ideais marxistas, assume uma postura de denunciador dos problemas sociais.

Segundo Palermo e Carbonel (2008 p.6), a partir do engajamento com as questões sociais, essa característica baseia-se

na tensão de um “eu” (metonímia do povo, porém ainda assim individualizado) e o mundo (sertão) que não se resolve, uma vez que o drama desse “existir” depende necessariamente da solução de questões mais amplas: a luta de classes, a opressão capitalista, a animalização do homem pelo próprio homem (expressão sociológica da crueldade humana intrínseca).

                Para estes autores, “o foco, definitivamente é a problematização e a discussão da questão social”. Sendo assim, a história de uma família brasileira diante de um cenário de seca e miséria assume uma dimensão maior e passar a representar todos os brasileiros que vivem em semelhante condição. É como afirmam Hirato e Cícero (2009, p5): “Fabiano deixa de ser um personagem fictício e regional”.

            Em Vidas Secas, a opressão não vinha apenas das condições naturais. Fabiano é um nômade, ele não era dono de terras, não tinha propriedade, mas sua andança não se deve apenas à seca.A sua condição de miséria e opressão decorre da grande propriedade, bem como, entre outros fatores, da política de irrigação favorável às classes dominantes. É o capital enquanto relação social que gera e aprofunda a miséria” (HIRATO e CÍCERO, 2009, p7). Fabiano vivencia a opressão do homem através da relação de poder, que se faz presente em vários capítulos da narrativa. No capítulo 10 – Contas, vemos que a permanência na fazenda foi negociada mediante a exploração.

Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria a gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente estourava:
 - Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão não se trepa.
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia.

            Fabiano era um sem terra e para manter-se na casa da fazenda, foi submetido à exploração pelo latifundiário, a quem se refere como um homem “arreliado, exigente e ladrão, espinhoso como um pé de mandacaru” (Capítulo 2 – Fabiano). Melo (2005, p.382) observa que a humilhação e o abandono a que a família sofria, animalizando-os, fortalecia-se por meio do Estado, representado pelo soldado amarelo (cor que simbolizava o Estado). Para a autora, no capítulo “Cadeia”, “o Governo e a lei punham-se em evidência somente para demonstrar o lugar insignificante em que homens como Fabiano se encontravam”. Através do soldado, vemos presente a opressão exercida pelo Estado, a quem o homem deve se sujeitar. No Capítulo 11 – O soldado amarelo, Fabiano tem a chance de se vingar daquele que o colocara na cadeia injustamente. Neste trecho, percebemos que mesmo com o desejo de vingança, tomou consciência de que o soldado amarelo, como ele, era um coitado que recebia ordens de um poder instituído e sendo assim, de nada adiantaria matá-lo, a opressão não deixaria de existir.

Aprumou-se, fixou os olhos nos olhos do policia, que se desviaram. Um homem. Besteira pensar que ia ficar murcho o resto da vida. Estava acabado? Não estava. Mas para que suprimir aquele doente que bambeava e só queria ir para baixo? Inutilizar-se por causa de uma fraqueza fardada que vadiava na feira e insultava os pobres! Não se inutilizava, não valia a pena inutilizar-se. Guardava a sua força.


            Essa consciência das relações de poder fica evidente quando Fabiano pensa “governo é governo” e tira o chapéu de couro, curva-se e ensina o caminho ao soldado amarelo. Isto não significa apenas humildade, vemos aqui um sinal de obediência e submissão aos superiores por meio de costumes.  No Capítulo 7 – O mundo coberto de penas, ao lembrar-se do encontro, pensa que se tivesse matado o soldado, estaria preso, mas seria um homem respeitado. - Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado amarelo. Os soldados amarelos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o soldado amarelo e os que mandam nele”.   

            Ao ensinar o caminho ao soldado amarelo ao invés de matá-lo, Fabiano não estava evitando apenas sua prisão. Estava também evitando a prisão de sua mulher e seus filhos, que ficariam vulneráveis, sem a sua proteção, como mostra esse trecho do Capítulo 3 – Cadeia: “Pobre de sinhá Vitória, inquieta sossegando os meninos. Baleia vigiando, perto da trempe. Se não fossem eles... (...) o que o segurava era a família”. Segundo Victor Coelho (2008), “parece que Graciliano Ramos quer um destino diferente para a família de Retirantes. O conhecimento sociológico da época, assim como o marxismo, já diziam que a eliminação de um indivíduo não implica as alterações estruturais e nas relações sociais”.

            Por ser preso injustamente, Fabiano não se convencia de que o soldado amarelo representasse o governo: “Governo, coisa distante e perfeita, não podia errar. O soldado amarelo estava ali perto, alem da grade, era fraco e ruim, jogava na esteira com os matutos e provocava-os depois. O governo não devia consentir tão grande safadeza” (Capítulo 3 – Cadeia). Nessa concepção, Fabiano idealiza um governo justo, representado por pessoas honestas, não pelo soldado amarelo, que se beneficia do poder para abusar dos menos favorecidos e marginalizados.

            Outro momento em que Fabiano entra em contato com o governo acontece no capítulo 10 – Contas, quando surge o fiscal da prefeitura para cobrar imposto da venda de um porco que matara.  E aqui Venturotti (2008, p.4) traz uma reflexão: “o que realmente significaria para o sertanejo, isolado no mundo e sem os devidos recursos do Governo, os impostos obrigados a pagar?” Silva (2001, p.17) observa que a pior adversidade de Fabiano vem do meio social.

O Soldado Amarelo corrupto, oportunista e medroso, que subjuga os demais por compreender-se como a força da lei; o dono da fazenda exigente, ladrão e opressor; o fiscal da prefeitura intolerante e explorador só espelham os desmandos sociais dentro dos quais se perdem Fabiano e sua família. Esses personagens, caracterizados como ricos proprietários e opressores, não têm necessidade de fugir das secas. É justamente esta a preocupação paralela de Graciliano Ramos, denunciar a desigualdade entre os homens, a opressão social, a injustiça. Em momento algum o esmagamento de Fabiano e sua família é explicando apenas pela seca ou qualquer fator geográfico.


A LINGUAGEM EM VIDAS SECAS

            Diante de tamanha opressão, Fabiano não se sentia dono de sua própria linguagem. Sendo a linguagem um dos fatores fundamentais para que o homem se insira na sociedade, esta lhe era subtraída diante da exploração vivida.

            Durante a Era Vargas, o Integralismo ganhou força no Brasil. As ideias integralistas eram bem recebidas pelas camadas médias urbanas e intelectuais da época, passando a representar um dos mais importantes movimentos no cenário político da década de 30. Sua filosofia se caracterizava principalmente pelo nacionalismo e defesa da hierarquia social. Segundo Arraes (2011, p.50), “Vargas estava atento ao fato de que a linguagem, sob o viés da cultura, poderia ser uma estratégia de controlar e unificar os brasileiros”. E isto Vargas fez bem. Controlava a cultura por meio da censura, criou o ministério da Saúde, Educação e Trabalho e governou o país sendo populista e centralizador. Em relação a educação, Arraes afirma que o Governo, “ao mesmo tempo que reconhecia as necessidades populares, cedendo a algumas pressões, desenvolvia uma política de massa que procurava manipular essas necessidades, transformando a educação em uma forma de controle e difusão da ideologia oficial (idem, p. 52).

            No contexto internacional, Getúlio Vargas queria passar a imagem de um país de riquezas naturais, em amplo desenvolvimento socioeconômico, a que a autora chama de “exaltação ufanista”. Como contraste estava a pobreza do sertão, não importadas pelas canções que divulgavam um Brasil sem a  realidade da seca, da miséria e exploração.

            É nesse contexto que Graciliano Ramos, imbuído dos ideais marxistas, escreve o romance Vidas Secas, denunciando o desamparo social num Brasil esquecido, vivido por muitos “Fabianos” explorados pelo sistema agrário que fortalecia o latifúndio. Na obra, percebemos como as relações de poder, a mais-valia e a desigualdade social por meio da exploração se fazem presentes. O silêncio das personagens, a falta de diálogo, o “exílio linguístico” como estudaremos mais adiante, nos revela o drama de uma família desamparada, que se cala diante da natureza hostil e da hostilidade de uma classe dominante.

O romance nos faz entender que não é a terra que é seca, são as vidas. A maior parte da narrativa acontece num período propício para a produção e fartura.

Bem. A catinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro daquela fazenda morta. Chocalhos de badalos de ossos animariam a solidão. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras, Sinhá Vitoria vestiria saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral. E a catinga ficaria toda verde. (Capítulo 1 – Mudança)
            De fato, a seca só volta a partir do penúltimo capítulo. Com a estação que favorecia a plantação, nascia também a esperança de que a vida seria melhor. Mas ali, numa terra de donos, onde a exploração e a opressão criavam raízes, Fabiano não tinha condições de se legitimar como homem, impossível ainda seria legitimar seus sonhos. 

De acordo com Silva (2001, p.12) “secas não são só as vidas das personagens e as paisagens que atravessam o sertão nordestino, mas também a linguagem do livro”. No capítulo 2 – Fabiano, podemos perceber como a comunição era escassa, mirrada, quase ausente.

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos - exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.

            Protez e Menon (2008, p.2) referem-se ausência de linguagem como “a atrofia da palavra, fator que gera a exclusão”. Essa “atrofia” não tem raiz na estrutura familiar e sim, em fatores externos que atingem Fabiano e sua família de modo que as interações que norteiam as relações afetivas e sociais são produtos dessas interferências. Em alguns trechos, percebemos que Fabiano nem sempre se sente confortável em relação à linguagem. No Capítulo 2, Fabiano vê em eu Tomás da Bolandeira um modelo de comunicação e deseja adquirir uma linguagem mais instruída, ou seja, sente necessidade de comunicação: “Em horas de maluqueira Fabiano desejava imitá-lo: dizia palavras difíceis, truncando tudo, o convencia-se de que melhorava. Tolice. Via-se perfeitamente que um sujeito como ele não tinha nascido para falar certo”.

De acordo com Melo (2005, p.385), o desconhecimento da linguagem por parte de Fabiano configurava o desconhecimento da sua realidade, pois “o domínio da linguagem era o domínio do mundo, da realidade, a compreensão de seus mecanismos”. Isto explica porque Fabiano considerava as palavras perigosas: “Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas”. Melo (2005, p.385) considera que “o ser bicho estava relacionado ao arcaísmo da linguagem de Fabiano e sua Família”. Segundo a autora, somente a palavra lhe daria condições de torná-lo homem, uma vez que a compreensão da realidade se dá mediante a aquisição da linguagem.

Logo no capítulo I – Mudança, percebemos a incomunicabilidade da família que, para aliviar a fome, matara o papagaio mudo: “Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra”.

Essa “atrofia da palavra” conforme diz Protez e Menon, é sentida pelos irmãos. A falta de domínio da linguagem dificultava não somente os meninos, mas também Fabiano, que muitas vezes não era compreendido por não saber se expressar. Dessa forma, as frases soltas com repetições e sons guturais recebiam o auxílio de gestos e assim alcançava mais êxito na comunicação. No Capítulo 7 – Inverno, podemos perceber o quanto a linguagem no contexto familiar era deficiente.

Fabiano tornou a esfregar as mãos e iniciou uma historia bastante confusa, mas como só estavam iluminadas as alpercatas dele, o gesto passou despercebido. O menino mais velho abriu os ouvidos, atento. Se pudesse ver o rosto do pai, compreenderia talvez uma parte da narração, mas assim no escuro a dificuldade era grande. (...)

Fabiano gesticulava. Sinhá Vitoria agitava o abano para sustentar as labaredas no angico molhado. Os meninos, sentindo frio numa banda e calor na outra, não podiam dormir e escutavam as lorotas do pai. Começaram a discutir em voz baixa uma passagem obscura da narrativa. Não conseguiram entender-se, arengaram azedos, iam se atracando. Fabiano zangou-se com a impertinência deles e quis puni-los. Depois moderou-se, repisou o trecho incompreensível utilizando palavras diferentes.(...)

O menino mais velho estava descontente. Não podendo perceber as feições do pai, cerrava os olhos para entendê-lo bem. Mas surgira uma duvida. Fabiano modificara a historia - e isto reduzia-lhe a verossimilhança. Um desencanto. Estirou-se e bocejou. Teria sido melhor a repetição das palavras. Altercaria com o irmão procurando interpreta-las. Brigaria por causa das palavras - e a sua convicção encorparia. Fabiano devia tê-las repetido. Não. Aparecera uma variante, o herói tinha-se tornado humano e contraditório.


            Vemos na insatisfação do irmão mais velho a busca incessante pelo significado das palavras.  Outro exemplo de busca do conhecimento através da linguagem está no capítulo 6 – O menino mais velho, que ao ouvir a palavra inferno, busca a sua compreensão: “Entranhando a linguagem de sinhá Terta, pediu informações”. Após algumas tentativas em vão com a mãe, o menino também se frustra com o pai e por ter seu direito de saciar sua curiosidade cerceado, desabafa-se com a cachorra Baleia: “Explicou isto à cachorrinha com abundância de gritos e gestos” . No capítulo 8 – Festa, podemos notar que os irmãos se sentem num ambiente de conflito, estranhos ao mundo da linguagem, dos nomes e das coisas:

Agora olhavam as lojas, as toldas, a mesa do leilão. E conferenciavam pasmados. Tinham percebido que havia muitas pessoas no mundo. Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma duvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as mocas bem vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intrincada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forcas estranhas que elas porventura encerrassem.


Protez e Menon (2008, p.4) observam que a ausência de linguagem entre as personagens evidencia a semelhança entre o homem e o animal, comunicando-se “por gestos e ruídos e sem atingir um discurso coerente”. O diálogo quase inexistente parece se justificar pela brutalidade da seca que fazia Fabiano sentir-se um bicho. O silêncio das palavras, na verdade, expõe a miséria da família que se encontra excluída e marginalizada. Sendo assim, a falta de comunicação a mantinha estagnada, sem condições de avançar. Nesse aspecto, Coelho (2008) considera “a questão da linguagem como uma barreira social e, mais ainda, como demarcadora de uma hierarquia social”.

            Diante dessa marginalização que se constitui pela ausência de comunicação, Venturotti (2008, p. 3) chama de “exílio linguístico”. Segundo o autor, a linguagem se torna um mundo tão hostil quanto à seca da região. Isso explica a perturbação dos meninos sem nome em algumas partes da narrativa. Descobrir o significado das coisas tornavam-nas mais próximas: “Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas”( Capítulo 8 – Festa). Para Venturotti, o exílio linguístico

está na própria realidade de não terem um nome. Tão desumanizados e destituídos de si mesmos. Permanecem no anonimato, denunciando um descaso com aqueles que vivem no sertão. Não tendo nomes, não possuem identidade e, consequentemente, não adquirem direitos. A mudez a que a família é submetida funciona como um elemento de não-humanidade, por isso ela almeja a linguagem como um fato libertador de sua condição semi-animalesca.
           
            Quando estava na cadeia, Fabiano lamenta por não saber falar direito. Se soubesse, teria se defendido da mal que sofrera. Silva (2001, p.22) considera que, nesse caso, “o bom desempenho linguístico seria uma arma, uma defesa contra injustiças, exclusão, discriminação”. Por não ter instrução, Fabiano recuara, inseguro de seus argumentos diante dos argumentos do soldado amarelo: “Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares. (...) Se lhe tivessem dado ensino, encontraria meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar com bichos (Capítulo 3 – Cadeia).   

Outro aspecto importante a ser considerado nessa obra é a fragmentação do romance. A fragmentação não rompe apenas com a linearidade do tempo, ela está presente na linguagem quase inexistente e na compreensão da realidade, na seca que obriga a família a fugir e na opressão social.


“O romance,constituído de treze capítulos, não obstante apresenta-se fragmentário, como quadros de episódios da família, liga-se de modo contínuo, pois o primeiro e o último capítulo tratam do mesmo tema: a fuga da seca.Este caráter revela uma intencionalidade cíclica para a família de Fabiano, pois o mundo fecha-se para eles. (VENTUROTTI, 2008, p.3)

           
A volta da seca no último capítulo parece fechar o mundo para Fabiano, vida cíclica que reforça a perpetuação da miséria, dentro de uma concepção naturalista, em que o sujeito é influenciado pelo meio e pelo contexto histórico. Então, Fabiano segue o mesmo destino que teve seu pai, e que terá seus filhos.

A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, a toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. (Capítulo 2 – Fabiano)

Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão. Era sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar látegos - aquilo estava no sangue. (Capítulo 10 – Contas)

           
            Fabiano vivia num mundo incompreensível, do mundo para si e dele para o mundo. A violência simbólica imposta pelo desamparo discursivo o levava a acreditar que sua pobreza e vida sofrida também tinha um processo natural, a quem não competia entender.

            Se a linguagem é fator determinante para a compreensão do mundo, o “apartheid linguístico” segrega o ser humano, alimenta a desigualdade e o põe à margem da ignorância. Fabiano e sinhá Vitória fazia isso com seus filhos. Quando o filho mais velho queria saber o que era inferno, percebemos que o menino buscava um mundo desconhecido que viesse a ser revelado através das coisas, dos nomes. Reprimi-los e cerceá-los não apenas os impediam de compreender as coisas e passar a enxergá-las à luz das revelações, era mais que isso. Essa influencia do meio tornariam os filhos como os pais, sem a força da palavra e andantes de um sertão implacável, castigados pela natureza e explorados pelos patrões.

CONCLUSÃO

            Diante do exposto no desenvolvimento deste trabalho, analisamos a crítica social e a linguagem em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que tematiza o livro a partir de Fabiano e sua família e expõe o abandono e o descaso somados à opressão social e à fuga da seca. A enumeração de elementos presentes na obra compõe o cenário de Vidas Secas e retrata a exploração do homem por meio da negação de seus direitos, caracterizados como desamparo social e discursivo.

            Durante a análise, pode-se constatar a situação de miséria e exploração em que vive Fabiano e sua família, castigados pela seca e injustiçados pelo dono da fazenda e governo, contexto histórico que pode estender-se desde à época da publicação da obra até os dias atuais. A falta de comunicação também se mostra como arma de opressão, pois subtrai do homem a palavra, tão necessária para conviver socialmente, em que a linguagem tem papel decisivo de construção do sujeito. Desse modo, o autor expõe a exclusão social marcada pela ignorância linguística e miséria, perpetuando a condição de oprimida da família que silencia e sofre, de maneira que traduz o título tal como suas vidas: secas.
  

REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

ARRAES, Danielle de Campos Gaspar. Linguagem, Poder e Educação: Vidas Secas de Graciliano Ramos e o Estado Novo de Getúlio Vargas. Revista Litteris: no 8, 2011

COELHO, Victor de Oliveira Pinto. Vidas Secas e o Sol da Esperança: uma análise da obra de Graciliano Ramos. Literatura e Autoritarismo: Dominação e Exclusão Social. Revista no 11, 2008.

MELO, Ana Amélia M. C. A Crítica Social e a Escrita em Vidas Secas. Estudos, Sociedade e Agricultura, ano 13, volume 02. UFRRJ, 2005

PALERMO, Iraídes Fátima Bogni e CARBONEL, Thiago Ianez. A retórica da reificação: reflexos contextuais no romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Anais do I Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa. São Paulo: 2008.

PROTEZ, Cláudia Fernanda e MENON, Maurício. O homem e a linguagem em Vidas Secas. Revista Eletrônica Lato Sensu: Ed. 4. UNICENTRO, 2008

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Posfácio de Marilene Felinto. – 95ª edição – Rio de Janeiro: Record, 2004.

SILVA, Maria de Narazé Moreira da. A secura do mundo seca a palavra de Fabiano. Belém: Universidade da Amazônia, 2001

VENTUROTTI, Fábio. Exílio, Fronteira e Fome em Vidas Secas. Revista Crioula: no 3, 2008

HESS, Bernard H., BRUNACCI, Maria Izabel, FARIA, Viviane Fleury. Estética da Nacionalidade em Graciliano Ramos. Unicamp, 2005

HIRATA, Francine e CÍCERO, Pedro Henrique. Vidas Secas e muitos “Fabianos”: uma breve problematização das teorias dos movimentos sociais a partir de uma perspectiva de classe. Unicamp, 2009.



Análise literária sobre um poema de Décio Pignatari

(Décio Pignatari – 1968)

Neste poema, temos um exemplo de poesia semiótica, que revela um pouco mais de complexidade semântica, pois sua interpretação exige mais leitura visual das formas puramente gráficas. . Trata-se de um ideograma verbal, cuja distribuição aparece de forma amálgama, revelando a ligação entre as palavras “homem” e “woman”. Sugere a relação entre os dois seres, inserindo-se nesse contexto o ato sexual e a reprodução.